Descrição
Os 60 milhões de exemplares que a sua tradução já vendeu desde há pouco mais de três séculos convertem o seu texto no mais lido e difundido em língua portuguesa. A tradução setecentista que João Ferreira Annes d’Almeida fez da Bíblia Sagrada ficou conhecida como sendo a primeira elaborada directamente do hebraico para português. É esta tradução que se apresenta nesta nova edição, com adaptação do texto para o português contemporâneo da responsabilidade do teólogo e poeta José Tolentino Mendonça.
«A Bíblia (literalmente os livros) é um heterogéneo espaço literário. Reúne desde o desenho que as genealogias repetem monotonamente, traço a traço, até ao nome que assoma uma só vez, como um relâmpago. Desde cosmogonias a acordos políticos e guerreiros, desde alterações cósmicas a altercações domésticas. Nela encontramos: tragédias, comédias, epopeias, autobiografias, cantos de amor, relatos de naufrágios, índices historiográficos, peças de folclore, inventários, livros de viagem, registos de propriedade, bênçãos, maldições, calendários, aforismas… numa profusão que infinitamente se desdobra. A Bíblia representa um «atlas iconográfico», «estaleiro de símbolos», «imenso dicionário», como Paul Claudel lhe chamou. É um reservatório de histórias, um armário cheio de personagens, um teatro do natural e do sobrenatural, um fascinante laboratório de linguagens. Usa a língua literária, claro, mas não recusa o linguajar desnudo que é o dizer corrente. Mantém uma respiração polifónica, sumptuosa e litúrgica, mas também uma sintaxe pobre, esforçada, cheia de lacunas e de anomalias. A Bíblia não escolhe propriamente uma linguagem: é uma monumental acumulação de possibilidades.
É tudo isso e também aquilo que nem conseguimos dizer, porque é tão difícil, tão diferente dizer uma literatura construída, não o esqueçamos, por poetas e escritores anónimos, uma literatura que foi segredada e recitada durante séculos, antes de ser escrita, que é tecida de palavras que solicitam o indizível, e que foram, e que são, não apenas a expressão das histórias, mas o rastro de um estremecimento que as atravessa. Talvez seja isso o vento de Deus.»
José Tolentino Mendonça (excerto do prefácio)
Avaliações
Ainda não existem avaliações.